Dados do relatório publicado pelo Fórum Econômico Mundial (FEM) em 2016 aponta que as mulheres cuiabanas inseridas no mercado de trabalho recebem 42% amenos que os homens. A disparidade entre os rendimentos salariais por gênero é observada em todo o Estado e o ganho médio da trabalhadora mato-grossense é 38% inferior ao do homem. À beira da 3ª década do século 21 ainda prevalece a desigualdade salarial por gênero. A superação desse cenário, predominante nas regiões em desenvolvimento, só acontecerá em 170 anos.
Apesar da correção nos ganhos salariais, as mulheres mato-grossenses recebem R$ 629 a menos que os homens.
Na capital, onde a desigualdade salarial é mais acentuada, a renda média das trabalhadoras é inferior em R$ 844 ao ganho médio dos homens, como demonstra a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No país, a remuneração feminina é inferior à masculina em 45,89% ou R$ 716. De acordo com a série histórica mantida pelo IBGE, nos últimos 5 anos os rendimentos das mulheres mato-grossenses aumentaram 47,10%, ao saltar da média de R$ 1,123 mil no início de 2012 para R$ 1,652 mil neste ano. Por sua vez, os homens auferiam remuneração média de R$ 1,783 mil em 2012 e esse ganho subiu para R$ 2,281 mil neste ano, numa evolução de 27,83%.
O acúmulo de responsabilidades pelas mulheres as coloca invariavelmente em desvantagem profissional perante os homens, afirma a professora de Economia do Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT), Priscila Gomes de Castro. Pesquisas em diferentes países induzem concluir que a diferença salarial por gênero resultada dupla jornada de trabalho das mulheres, impelidas a dividirem as responsabilidades profissionais com as domésticas e com a prole. A economista cita estudo realizado por pesquisadores brasileiros – Guilherme Stein e Vanessa Sulzbach, em 2015 -sobre a diferença salarial entre homens e mulheres. Segundo eles, a desigualdade salarial por gênero seria em torno de 20% no Brasil e estaria relacionada principalmente à diferença de produtividade.
A dupla de pesquisadores considerou que as mulheres seriam menos produtivas por interromperem a carreira com mais frequência, manterem jornada menor que a dos homens e propensas a ocupações que remuneram menos. Apenas 7% da diferença salarial seria relacionada à discriminação, preconceito, machismo e outros fatores ainda não esclarecidos, comenta a professora do IFMT, em referência ao estudo dos pesquisadores brasileiros. “A interrupção da carreira com frequência pode estar relacionada com a maternidade, com a mudança de localidade para acompanhar o marido, assim como a jornada de trabalho menor pode estar relacionada a maternidade e à dupla jornada feminina”, pondera a economista. “Isso enfatiza que a divisão do trabalho doméstico continua muito desigual, o que na minha visão pessoal, não deixa de ser um preconceito”, afirma.
Conforme ela, as mulheres mais escolarizadas tendem a buscar cargos com maiores salários. Contudo, esses cargos exigem geralmente jornadas mais árduas e muitas vezes incompatíveis com a função de mãe e esposa exercida pela maioria das mulheres. Por isso, são empregos dominados por homens. Exemplo disso está nos cargos de CEOs de grandes corporações mundiais, raramente ocupados por mulheres, completa Castro. “As maiores diferenças salariais entre homens e mulheres estão justamente para as mulheres mais escolarizadas e que buscam cargos melhor remunerados”. Ou seja, quanto maior a função, maior a diferença salarial. Além disso, as desigualdades salariais por gênero são mais evidentes por cargos e funções. “Há setores que as desigualdades de colocação profissional são mais acentuadas, acredito que especialmente aqueles setores que estão atrelados à visão cultural e machista de que certos trabalhos são apenas para homens ou que homens exerceriam melhor, teriam mais habilidades”.
Defensora pública no interior de Mato Grosso, Giovanna Marielly da Silva Santos tem a percepção de que as mulheres enfrentam maior desigualdade salarial ao atuarem na iniciativa privada. Para ela, a igualdade nos rendimentos é possível no setor público e por meio de cargos efetivos. “Mesmo assim, as mulheres são mais cobradas, já que acumulam ocupações adicionais como mãe e esposa”, avalia. Essa condição, somada à predominância de homens em cargos de comando -seja no setor público ou privado – forçosamente exige da mulher dedicação redobrada para alçar a carreira, opina Santos. “É um espaço de luta, travada pela mulher dia a dia”, reflete.
As mulheres representam 40% do total de funcionários mantidos nas empresas do vice-presidente da Federação das Indústrias de Mato Grosso (Fiemt), José Eduardo Pinto. Na área a proporção sobe para 70%. Ele garante que não há diferenças salariais por gênero. “A diferença salarial existe pelo tempo de casa e não por ser homem ou mulher”. Para ilustrar o que diz, o empresário comenta que mantém mulheres nos cargos mais proeminentes, de gerência administrativa e financeira. “Vejo que as mulheres estão ocupando mais espaços pela competência. Viemos de gerações acostumadas com a mulher como dona-de-casa, mas as mulheres superaram isso”, conclui.