O diretor do Sindalcool MT, Jorge dos Santos, falou ao Mato Grosso Econômico sobre o Renovabio, que será um dos temas da palestra do Evento Sucroenergético que acontecerá nesta sexta (2) em Cuiabá.
A expectativa é que o programa RenovaBio se transforme em lei e o setor espera que o governo federal dê um posicionamento sobre o percentual de etanol na matriz energética brasileira, o tipo de biodiesel que estará no mercado, entre outras definições. “Dessa forma o setor produtivo vai poder estudar quanto precisa investir e enxergar o retorno do investimento no longo prazo. Isso é necessário para que as empresas não fiquem reféns da Petrobras, quando ela quiser reduzir os preços no mercado por vontade própria” avalia Jorge Santos que defende a criação de uma política pública para a cana de açúcar, assim como acontece com outras áreas governamentais e produtivas.
Jorge destaca que a queda no preço da Petrobras ocorrida nos últimos tempos em relação ao mercado internacional do petróleo prejudicou o setor. “A gasolina estando abaixo do preço ideal e o etanol hidratado sendo um percentual da gasolina, muitas empresas tiveram que entrar em recuperação judicial, pois não conseguiram equilibrar suas contas”, disse Jorge à reportagem do Mato Grosso Econômico.
Com a situação ocorrida os canaviais não foram renovados nos últimos anos e a produtividade foi reduzida, criando um círculo vicioso.
Em 2016 o setor sucroalcooleiro alcançou um melhor desempenho, pois o preço do açúcar teve elevação no mercado internacional, conseguindo ultrapassar a barreira dos R$ 100/saca de 50 Kg, o que nunca tinha acontecido. Com isso as empresas que estavam em pior situação conseguiram respirar um pouco. Já as empresas que estavam um pouco melhor investiram em novos canaviais e tratamento da soca da cana melhorando a produtividade do setor.
Em 2017 os estoques mundiais de açúcar estão equilibrados quando comparados ao consumo. Jorge afirma que é necessário definir uma política pública para os Biocombustíveis e citou que o programa RenovaBio vem para dar um horizonte ao setor. O programa vai ajudar na redução da emissão de gases de efeito estufa, além de melhorar a competitividade e comercialização do produto. “Em dezembro de 2015 o Brasil foi a Paris, na Conferência do Clima (COP 21) e assumiu o compromisso de reduzir a emissão de CO2 no meio ambiente. Mas para que isso ocorra, algumas ações devem ser realizadas, entre elas a recuperação de áreas degradadas e florestas por meio do replantio de árvores e maior investimento em biocombustíveis e no setor sucroalcooleiro, que produz o etanol, um meio de combustível menos agressivo à natureza do que a gasolina” destaca Jorge.
O diretor executivo do Sindalcool MT ressalta que é preciso de mais garantias para o setor realizar investimentos e aumentar a produção. “Estamos no limite da produção e a gasolina no limite do refino. Algumas situações ainda estão sendo entendidas pelo setor, por exemplo, a redução da Petrobras de 3% da gasolina no mercado interno mesmo o valor do petróleo ter subido 6% no mercado internacional”, questiona.
Outro fator que impede o crescimento do setor para outros mercados é a logística, pois o preço agregado no transporte inviabiliza a competição. “Como vamos competir com São Paulo se temos a partir de R$ 0,22 centavos de frete, ou seja, um produto que custa R$ 1,70 é preciso agregar mais R$ 0,22 centavos de transporte, subindo para R$ 1,92 por exemplo", ressalta.
Mato Grosso produz por ano cerca de 17 milhões de toneladas de cana, essa média vem ocorrendo nos últimos cinco anos. Para alcançar novos mercados e o setor ter mais desenvolvimento o programa RenovaBio é um importante projeto que pode melhorar a área produtiva, dando um horizonte aos produtores para os próximos 20 anos.
Vale lembrar que do total da produção mato-grossense de R$ 17 milhões de toneladas de cana ao ano, 80% fica em Mato Grosso, quando se fala em etanol hidratado e 20% vai para outros estados. No caso do anidro, que é misturado na gasolina, metade fica no estado e a outra metade vai para fora.
Etanol mais barato
Jorge falou também ao Mato Grosso Econômico sobre a oscilação do preço do etanol no mercado ocorrida nos últimos dias no estado. “As empresas produtoras voltaram à ativa mais ou menos na mesma época e estão trabalhando com uma qualidade da cana acima do normal, lembrando que a quantidade de açúcar extraída da cana de Mato Grosso em relação a alguns outros estados produtores é superior”, disse.
A recente queda do diesel, em torno de 5%, as chuvas que ocorreram de forma favorável no ano passado, o preço do açúcar, a qualidade da cana de Mato Grosso e os investimentos das empresas nos canaviais são fatores que contribuíram para que os consumidores tenham hoje um etanol mais barato nos postos de combustíveis.