Ao contrário da crise de 2009 que a retomada da economia foi baseada no consumo, desta vez só será possível melhorar a situação se houver investimento em infraestrutura e uma visão de longo prazo. É o que considera o Economista Gesner Oliveira que esteve presente ontem (10) na Federação das Indústrias de Mato Grosso (Fiemt), em Cuiabá-MT, ministrando uma palestra sobre a importância da participação privada na retomada do crescimento econômico e da infraestrutura do Brasil.
Gesner, que foi eleito Economista do Ano em 2016 pela Ordem dos Economistas do Brasil, se considera otimista com moderação e acredita que a economia vai se recuperar lentamente a partir de 2017.
Ele destacou que desde meados dos anos 30, o Brasil não tinha dois anos seguidos de decréscimo no PIB, como registrado recentemente.
Um aspecto preocupante no país hoje é o desemprego, que segundo Oliveira, infelizmente vai crescer até o terceiro trimestre de 2017. Na contração da economia, primeiro houve a queda dos investimentos, depois diminuiu a produção, que consequentemente fez com que as vendas caíssem também, até atingir o mercado de trabalho desde a segunda metade de 2014 até os dias atuais.
Por outro lado, devido aos fatores citados acima, há um espaço para a possível redução da taxa de juros do Brasil. Isso vai depender de inúmeros fatores entre eles a PEC 241 do teto dos gastos públicos que teve sua primeira votação favorável em primeiro turno, ontem (10), na Câmara dos Deputados em Brasília, com 366 votos favoráveis e 111 contrários.
Esta PEC estipula um teto para os gastos públicos nos próximos 20 anos. Como o próprio presidente Michel Temer disse recentemente “Temos que cortar na carne e dar exemplo para o Brasil”. O governo federal e os estados estão sentindo os efeitos da crise e reconhecem sua parcela de responsabilidade. Recentemente vimos o governador de Mato Grosso Pedro Taques e outros 19 chefes de estado encaminharem uma carta a Michel Temer, pedindo ajuda emergencial de R$ 7 bilhões. Caso os estados não recebam este recurso, os governadores podem decretar situação de calamidade, assim como foi feito no Rio de Janeiro.
A questão do déficit público não é algo novo a ser falado. Hoje com o agravamento da crise econômica o poder público está colocando um pouco mais isso em evidência, até para justificar a falta de condição financeira e tentar encontrar a origem do problema, que geralmente, muitos governantes dizem que provém das gestões anteriores.
Hoje é um grande desafio falar em investimentos estruturantes como portos, ferrovias, rodovias, saneamento, energia entre outros que o Brasil tanto precisa, utilizando somente recursos do setor público. Nesse âmbito, as Parcerias Público-Privadas (PPPs) podem alavancar investimentos em infraestrutura no país, mas colocam em alerta a necessidade dos governos terem uma visão mais de longo prazo e oferecerem mais segurança jurídica aos investidores e empresários. O Mato Grosso Econômico, que esteve presente na palestra, entrevistou Gesner Oliveira e perguntou sobre a dificuldade política que os governos de um modo geral têm em criar medidas de longo prazo, pois geralmente os planejamentos visam o curto e médio prazo, mais precisamente enquanto os governantes estão no poder durante os quatro anos ou no máximo oito, quando há interesse em reeleição.
“É preciso reforçar a cultura de planejamento de longo prazo. Os governantes precisam obedecer as diretrizes, mesmo que tenham sido criadas no governo anterior”, disse Gesner.
Outra questão também, é a dificuldade de contrapartida de recursos do poder público devido a escassez financeira. “Por conta disso, é provável que haja um foco maior em concessões, pois os estados não teriam necessariamente que oferecer contrapartida. Isso alivia um pouco as contas públicas. Existem Parcerias Público-Privadas (PPPs) que permitem também a economia de gastos e uma maior eficiência operacional, por exemplo presídios, hospitais entre outros. Mesmo que haja uma contraprestação do estado, o valor ainda é bem menor se considerarmos os investimentos globais que o poder público teria que fazer caso realizasse sozinho a construção da obra”, completou o Economista à reportagem.
Mato Grosso hoje vive uma situação atípica. É um estado com grandes riquezas e produtividade, principalmente no setor do agronegócio, porém as dificuldades orçamentárias têm impedido alguns investimentos públicos para o crescimento regional. Outros 19 estados brasileiros estão enfrentando também essa dificuldade e podem juntamente com Mato Grosso, decretar situação de calamidade ao governo federal. Tendo em vista que um dos fatores do crescimento seja a atração de investidores externos, fica o questionamento de como esses possíveis investidores vão enxergar o Brasil caso mais de 70% dos estados brasileiros decretem calamidade pública.
Talvez um dos caminhos seja de fato o viés das Parcerias Público-Privadas (PPPs), conforme abordou o Economista Gesner Oliveira, porém para isso se viabilizar na prática, é importante cada estado da federação verificar quais seriam as medidas necessárias a serem tomadas com base no potencial e peculiaridades da região, a fim de que não haja apenas uma dependência de recursos do governo federal para viabilizar o crescimento regional. A parceria com investidores poderia alavancar o crescimento econômico de uma cidade, estado e principalmente do país.
O Mato Grosso Econômico parabeniza a Fiemt e o palestrante pela importância em trazer conhecimento por meio de um evento como este, principalmente na atual conjuntura econômica do país.
O palestrante Gesner Oliveira foi eleito Economista do ano em 2016 pela Ordem dos Economistas do Brasil. É doutor em Economia pela Universidade da Califórnia (Berkley), professor de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e Coordenador do Grupo de Economia da Infraestrutura e Soluções Ambientais da FGV. Entre algumas das diversas atividades do seu histórico profissional já foi presidente da Sabesp, presidente do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) e Secretário Interino de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda. Tem trabalhado com organizações internacionais como o Banco Mundial e a OMC em vários países e contribuído com seu conhecimento para dar uma nova visão na política e economia brasileira.