O MT Econômico traz para você a história do empreendedor, dono da maior rede chinesa de restaurantes da América Latina, Robinson Shiba, proprietário do China In Box e Gendai, pertencente ao grupo Trend Foods. A história de persistência e superação foi contada em evento realizado essa semana em Cuiabá-MT.
Começou como dentista e tinha vida simples
O paranaense nascido na cidade de Maringá em 1992 tentou seguir a carreira do pai que é dentista. Ele conta que o primeiro empreendedor da família foi o avô, que aos 15 anos de idade navegou durante 4 meses do Japão para o Brasil em busca de “terras” e tentar uma vida melhor. Sem falar a língua brasileira e sem dinheiro, o avô de Shiba enfrentou várias dificuldades ao chegar no Brasil e construiu uma casa de palha com muita simplicidade e precariedade em um sítio. Ali mesmo criou os filhos que também trabalharam na roça, mas tiveram a oportunidade e incentivo de estudar, como é tradição das famílias japonesas, inclusive o pai do empresário.
Disse também que para estudar, o pai e os tios andavam cerca de 10 Km para ter acesso à escola, após um dia cansativo de trabalho, mas nunca desistiram. Logo o pai de Shiba fez um curso técnico de protético, e após a formação começou a trabalhar em um consultório odontológico. Já que estava na área, resolveu fazer faculdade de odontologia e construir carreira, além de montar seu próprio consultório.
No ano de 1970 o avô de Shiba vendeu o sítio e montou uma pequena loja de materiais de construção na cidade de São Paulo (SP). Com o tempo, o estabelecimento cresceu e ele convidou o filho, pai de Shiba para firmar uma parceria e assim, ajudar a administrar o negócio. Nos fundos da loja havia uma casa com três cômodos, onde abrigava três famílias, inclusive a do empresário que começava ali, uma nova vida. “A gente morava em um quarto, mas eu era feliz. Moramos lá por 15 anos”, declarou.
Viagem que mudou seu destino
Conforme a cultura japonesa, Shiba estaria se preparando para assumir tanto a loja do avô, quanto o consultório odontológico do pai, devido ao fato de ser o herdeiro mais velho da família. Mas durante o curso de odontologia convenceu o pai a financiar uma viagem para os EUA (Estados Unidos), onde iria com um amigo estudar outro idioma por dois meses. Com muito sacrifício, o pai juntou o dinheiro e atendeu o pedido do filho.
De acordo com ele, o desafio não foi fácil, pois não sabia falar inglês e ao chegar no Estados Unidos foi assaltado e perdeu todo o dinheiro que havia ganhado do pai para se manter e pagar os estudos. Sem saber como contar ao pai o que havia acontecido, ele encontrou uma oportunidade de trabalho em um restaurante chinês, após ver um anúncio de emprego num folheto de rua. O estabelecimento oferecia comida em uma caixinha de papel especializado e isso despertou sua atenção. “No restaurante eu fazia de tudo. Lavava vasilhas, limpava e até fazia entregas” relatou Shiba, que morou no exterior por um ano sem depender mais do pai, após trancar a faculdade de odontologia no Brasil.
Dificuldades quando retornou ao Brasil
Quando retornou dos Estados Unidos em 1989, encontrou o Brasil em crise econômica que afetou muitos empresários e famílias brasileiras, inclusive a dele. Fernando Collor de Mello, presidente da República na época, havia confiscado o dinheiro de muitas pessoas.
No mesmo ano, Shiba se formou na faculdade e perdeu a mãe e o amigo Marcelo Moraes, que havia viajado com ele para os Estados Unidos. No mês de outubro daquele ano, Shiba havia se casado e 4 meses depois, nasceu seu primeiro filho, mesmo sem ter feito planejamento familiar. Com tantos acontecimentos foi necessário adiar os planos para montar a empresa que tornaria a maior rede de fast-food da América Latina um tempo depois.
Primeiros passos no negócio
Após a formação acadêmica, já com três consultórios abertos, Shiba decidiu vender dois de seus consultórios e o pai, um apartamento, para juntar dinheiro e investir na primeira loja de fast-food do China in Box. Para entender melhor o “negócio”, o empreendedor passou a fazer pesquisas de mercado, de maneira informal. Ele ia aos restaurantes chineses que conhecia e tentava identificar o público da comida chinesa, valor das refeições, tamanho de porções, embalagens e se os estabelecimentos faziam entregas de pedidos. Foram cerca de 200 restaurantes visitados num período de 2 anos.
Com a ajuda de um amigo e contratação de um fotógrafo, foi criada a logomarca do China in Box e logo depois, fabricado os primeiros panfletos com os pratos que seriam vendidos em caixinhas especializadas para delivery, que na época, foi considerado um serviço inovador, além de ser a primeira empresa fornecedora de comida a mostrar o ambiente onde eram preparados os alimentos.
Dia 8 de outubro de 1992 foi aberta a primeira loja da rede China In Box em um shopping center no Bairro de Moema, Zona Sul de São Paulo. Após a inauguração, o dono distribuiu amostras grátis por 6 meses na região para divulgar a marca e torná-la conhecida. Na época, um amigo sugeriu que distribuíssem um “biscoito da sorte” que trazia no interior, um papel com uma mensagem escrita. Shiba aprovou a ideia que fez o maior sucesso. Depois, o amigo do empresário se tornou o terceiro maior representante de “biscoitos da sorte” no mundo.
Expansão e consolidação do negócio
Com recursos da primeira loja e ajuda da família, parceiros e amigos, o empresário conseguiu abrir novos estabelecimentos e 3 anos depois disponibilizou franquias no mercado. Em seu primeiro evento para tentar comercializar o novo formato do negócio e com expectativa de vender 7 unidades, acabou vendendo 35 franquias. No ano seguinte o número se repetiu. Em menos de 3 anos já estava com 70 franquias abertas e sua marca expandiu pelo Brasil. Shiba conta que muitos dos seus franqueados são ex-funcionários que tiveram a oportunidade de se tornarem empreendedores. Um dos exemplos citados por ele é de um ex-cozinheiro e um ex-entregador.
Atualmente a marca possui 160 franquias espalhadas em 22 estados do Brasil. Pelo menos 50 franqueados são ex-colaboradores. Além de administrar a rede, Robinson Shiba também ministra palestras sobre empreendedorismo e é investidor do programa televisivo Shark Tank Brasil: negociando com tubarões, exibido pelo canal Sony.
Para o empresário, é uma honra ser palestrante e contar um pouco de sua história. “Se em cada palestra eu incentivar uma pessoa a montar uma empresa, essa pessoa daqui a 20 anos poderá também estar empregando cerca de 4.500 pessoas como hoje estou. Assim, podemos arrumar o Brasil com o propósito de gerar empregos. Esse é um dos meus propósitos”, declarou.
O empresário lembrou ainda, que o modelo de mochila utilizada nos dias atuais pela maioria dos restaurantes que fazem entrega delivery, surgiu em sua empresa. Segundo ele, foi criada pela mãe de um entregador, cujo intuito era evitar danos e estragos nas caixas que transportavam a comida. A primeira mochila foi fabricada com tecido jeans e depois surgiram novos modelos com materiais diferentes.
Adaptação Tecnológica
Em 2014, em meio a crise vivenciada pelo país, e que afetou também a empresa, Shiba decidiu investir em tecnologia, após notar o avanço tecnológico de seus concorrentes. A filha que na época tinha 17 anos, foi quem fez o pai despertar para a evolução indicando que o China in Box deveria estar no aplicativo de celular de comida delivery Ifood, pois diversos concorrentes já estavam lá. Hoje em dia, pelo menos 30% do orçamento da empresa é investido em tecnologia.
Dicas aos empreendedores
Em entrevista ao MT Econômico, o empresário deixa um recado aos novos e futuros empreendedores. “Todo segmento deve investir em tecnologia para obter bons resultados. Cada vez que sou convidado a realizar palestras, eu venho aqui estimular as pessoas, para que criem dentro delas, esse estado de espírito de querer fazer as coisas de uma maneira melhor, mais rápida e tentar resolver um problema que elas encontram. Isso acontece em todo segmento da economia. Então, hoje existem muitos colaboradores com atitudes e espírito empreendedor, muito maior do que o próprio empresário. Então meu papel é esse, estimular a cultura do empreendedorismo nas pessoas, fazer com que elas tenham a necessidade de diariamente fazer melhor”, declarou.
Para Shiba, é importante transformar a inspiração em realidade, é preciso ‘arregaçar as mangas da camisa’ e agir, mas é importante lembrar que para empreender, é recomendável começar com um capital próprio. “É bom que junte o financeiro primeiro, porque já é grande o risco do negócio, aí correr o risco endividado é pior ainda. Para quem não tem capital, aconselho que comece a trabalhar como funcionário mesmo e junte um dinheiro ou tente sociedade com um negócio do ramo de interesse e passo a passo, caminhe e evolua pelas etapas, de pequeno, médio até chegar a ser um grande empresário”, ressaltou.
Além do investimento no ramo de comida, o empresário disse ao MT Econômico que investe também no setor de tecnologia e startup. Sobre novos investimentos, ele declarou que se o negócio for bom e escalável, é de se pensar. “Sendo escalável, uma necessidade do ser humano, pode ser que eu invista sim”, finalizou Robinson Shiba à reportagem especial do MT Econômico.
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