O Núcleo Interdisciplinar de Estudos em Planejamento Energético (Niepe), reuniu nesta segunda-feira (23) palestrantes, estudantes, especialistas e profissionais da área para debater questões relacionadas à produção de energia elétrica no contexto de mudanças climáticas no planeta e os efeitos em Mato Grosso. O evento aconteceu no auditório da Faculdade de Economia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), em Cuiabá e contou também com a apresentação do grupo de violino composto por alunos da universidade, do projeto UFMT em Cordas.
Para Ivo Leandro Dorileo, um dos organizadores do evento, o debate é importante para mostrar os estudos e pesquisas relacionadas ao planejamento energético, geração e distribuição de energia e as relações desses processos com o meio ambiente. “É importante levar esse conhecimento de pesquisa para a sociedade, até mesmo para discutir os temas da produção de energia e mudanças climáticas em um alto nível”, declarou.
Ainda segundo Ivo, o último balanço energético foi atualizado no ano de 2015 com base em 2014, sendo necessário a atualização ainda este ano. “Ele está sendo objeto de estudo na Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico (SEDEC). Há um contrato ainda a ser firmado e que dever sair entre o mês de abril e maio para que a atualização seja feita até o final deste ano. Esse balanço é o principal instrumento para que o estado conheça a realidade energética de Mato Grosso. Se não houver a atualização, ficaremos defasados em 4 anos. Então, há uma possibilidade de não conhecermos o que está havendo no estado em termos de produção e demanda de energia”, alertou.
Segundo Ivo, este balanço além de possibilitar a previsão de demanda de energia de acordo com os segmentos econômicos e população, permitirá também, a realização de políticas públicas em determinados setores como indústria, comércio e serviços, além do setor residencial, visando saber como a energia elétrica e os combustíveis serão consumidos até 2036.
Durante o evento, Paulo Modesto Filho, engenheiro ambiental da UFMT, debateu os desafios da produção de energia e efeitos climáticos possíveis, devido ao crescimento do planeta. Para ele, o aumento da temperatura média na Terra está intimamente associado à produção de energia, queimadas e desmatamentos. "No Brasil, por exemplo, 74% das emissões de Co2 são provenientes das queimadas e desmatamentos, o que é um problema grave. É preciso implementar em larga escala programas de energias renováveis como biocombustíveis, solar, eólica, dentre outras. O Brasil tem uma importante vantagem estratégica que é o álcool, energia hidráulica, recursos de energia solar e eólica abundantes” comentou.
O Prof. Dr. José Carlos Ugeda Junior, que compõe o departamento de geografia da UFMT, também foi um dos palestrantes convidados. Ele debateu alterações climáticas no ambiente da cidade de Cuiabá: evidências e soluções. Durante entrevista ao MT Econômico, ele questionou que a ampliação do espaço na cidade tem que ser repensada nos paradigmas, nos princípios que estão colocados. “Se nós historicamente provocarmos um intenso processo de desmatamento urbano, a gente tem que rever e pensar numa recomposição, num sistema contínuo de vegetação. Pelo menos as vias públicas, onde a gente possa caminhar as sombras das árvores”, enfatizou.
Para ele, é preciso pensar num sistema contínuo de vegetação proporcional. Porque a implantação de vegetação é mais barata do que a retirada de construções e prédios, isso deve ser debatido com a sociedade.
Ugeda criticou ainda, o replantio das árvores que foram cortadas para a construção do Veículo Leve Sobre Trilhos em Cuiabá (VLT). “O Poder público gastou milhões para plantar palmeiras imperiais no lugar de árvores nativas e isso não vai representar mitigação dos impactos ambientais, pelo fato da palmeira não ser uma árvore nativa, não trazer conforto algum à sociedade em relação a sombra e ser apenas esteticamente “bonita”, além de absorver menos carbono do que uma árvore nativa” disse.
Ele destacou ainda, que é preciso mais concentração na atmosfera e trabalhar com a conversão de energia alternativa, biocombustível, energia eólica, solar e biomassa de forma que evite a emissão de carbono novo na atmosfera. “É preciso retomar áreas verdes nos centros urbanos, não apenas fazer a compensação de carbono em áreas distantes, pois a população vive nas cidades", ressaltou.
Foi apresentado durante a palestra, um panorama de questões e preocupações que tem conduzido estudiosos da questão ambiental com essas possibilidades em função de que, se houver um aumento no nível médio de temperatura, é possível adquirir uma série de problemas ambientais.
José Antônio de Mesquita, presidente do Sindicato da Construção, Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica e Gás do estado de Mato Grosso (Sindenergia), esteve presente no evento e enfatizou que o aquecimento é uma grande preocupação. Mas discorda de que o desmatamento e o setor de energia sejam os maiores responsáveis pelo aquecimento. “Tem sim que verificar que os veículos também contribuem com emissão de poluentes, principalmente na área urbana onde as pessoas vivem”, enfatizou.
Para Mesquita, todo país que pensa sério, tem que fazer um planejamento em todos os setores. Destacou ainda, que Mato Grosso tem 96 usinas hidrelétricas que são renováveis e produzem energia limpa, com isso, contribuem para o meio ambiente. Para ele, o setor tem vocação para gerar energias renováveis devido ao sol, biomassa e recursos hídricos. É preciso aproveitar tudo isso, além de ajudar o país a crescer. “Mato Grosso contribui não só para o Brasil, mas para o mundo. O território global gera 85% de energia térmica e poluente. Em Mato Grosso 95% da energia é renovável e uma energia limpa com 93% sendo hídrica”, finalizou o presidente do Sindenergia.