O economista Ricardo Amorim esteve em Cuiabá nesta quarta (24) e ministrou uma palestra sobre as perspectivas da economia brasileira. O evento ocorreu no Centro de Eventos Pantanal e foi realizado pela Federação das Indústrias de Mato Grosso (Fiemt) celebrando o Dia da Indústria, que é comemorado hoje (25). Na ocasião também foram entregues os troféus às melhores indústrias para se trabalhar em Mato Grosso, além do lançamento da campanha de 40 anos do Senai-MT.
Ricardo falou sobre o conturbado cenário econômico e político atual. “Faz 6 anos que a economia brasileira estava indo para o buraco, freando os investimentos dos empresários e piorando o índice de empregos. Muita gente tem fechado as portas e está diminuindo a oferta no mercado. Mas esse ano as coisas estavam começando a melhorar, porém a demanda dos consumidores que estava se recuperando ia ter dificuldade de encontrar a oferta devido aos fechamentos das empresas”, disse.
O economista acredita que na contramão do mercado que surgem as oportunidades, pois quando há fechamento de empresas é que se diminui a concorrência e abre espaço para os empresários ganharem mercado. “Além do crescimento das vendas, também aumenta a margem”, destacou. Ricardo disse que no primeiro quadrimestre deste ano, depois de um crescente déficit de vagas de trabalho, o Brasil já tinha registrado saldo positivo de geração de empregos.
Porém, algo inusitado aconteceu nos últimos dias que está fazendo todas as perspectivas econômicas e políticas serem revistas. Com o escândalo do presidente da República Michel Temer, após delação de um dos donos da JBS, Joesley Batista, o mercado voltou a ficar um ponto de interrogação.
Mesmo diante das incertezas, Ricardo Amorim acredita que a indústria vai puxar o próximo ciclo econômico brasileiro. No último ciclo, uma das coisas que puxou o crescimento do país foi o consumo, pois todos os estímulos que tinham na economia eram voltados para as pessoas comprarem mais produtos no varejo. “Nos últimos 12 anos o varejo foi melhor que a indústria no Brasil. O consumo sempre cresceu mais que a produção, porém agora isso vai se inverter, se forem realizados estímulos ao setor industrial. A reforma tributária é um dos fatores que deve ajudar nesse processo, além da necessidade de outros incentivos para expandir a produtividade", disse.
O agronegócio foi destacado também como um importante setor que sustenta a economia no país. Ricardo comentou que há 15 anos as cidades do interior crescem mais que as capitais, que são mais dependentes do setor público e atualmente vivem sérios problemas em todas as esferas, incluindo municipal, estadual e federal.
O ‘efeito China e Ásia’ impulsionou o consumo das commodities e a produção das cidades do interior do Brasil, devido à alta demanda de alimentos nos últimos anos. “Cerca de 40% da área agricultável no mundo está no Brasil e em 15 anos o país multiplicou por 10 o superávit no agronegócio, passando de R$ 9 bilhões para R$ 93 bilhões.
Ricardo Amorim disse à reportagem do Mato Grosso que a perspectiva do mercado financeiro com o escândalo da gravação do presidente Michel Temer vai depender basicamente da agilidade do processo de transição.
“Hoje está insustentável o Michel Temer ficar no cargo, mas como é um processo de possível saída, vai depender quanto tempo isso vai levar e quão conturbado será para depois analisarmos a recuperação da expectativa no Brasil. Se for demorado e conturbado, pior será para o mercado financeiro, pois a instabilidade política inviabiliza a aprovação das reformas no congresso e com isso os investimentos não acontecem e se os investimentos não acontecerem não vamos gerar emprego e o país não vai crescer e por conseqüência, terá mais alta do dólar e queda na bolsa”, ressaltou o economista.
Ricardo disse que antes de melhorar, o cenário deve piorar, pois já estamos em véspera de ano eleitoral e o presidente que entrar nesse momento, caso Temer saia, ficará por um período muito curto, considerando as eleições oficiais de 2018.
Porém no longo prazo após essa turbulência passar, a tendência é de melhoria, pois a economia é cíclica, hora está em alta e hora está em baixa. Quando o cenário tiver mais positivo, voltaremos a ouvir da força da nova classe média, disse Ricardo. Fazendo um panorama histórico das classes sociais, a classe AB cresceu de 13,6 milhões (2004) para 23,1 milhões (2015). A classe C aumentou de 72,1 milhões (2004) para 113,1 milhões (2015) e a classe CD cresceu de 97,4 milhões (2004) para 70,8 milhões (2015), segundo dados da empresa de consultoria Ricam, do economista Ricardo Amorim.
Sobre o palestrante
Ricardo Amorim é economista, formado pela USP e pós-graduado em Administração e Finanças Internacionais pela ESSEC de Paris. Atua no mercado financeiro desde 1992, trabalhou em Nova York, Paris e São Paulo, sempre como economista e estrategista de investimentos.
Único brasileiro incluído na lista dos mais importantes e melhores palestrantes mundiais do Speakers Corner, Ricardo Amorim profere, há anos, palestras sobre economia e tendências no Brasil e exterior. É palestrante em eventos fechados de empresas de destaque, congressos, feiras de negócios e universidades como Harvard e Columbia. Foi palestrante-âncora e dividiu painéis com figuras ilustres, de economistas ganhadores do Nobel a ministros de estado e presidentes de bancos centrais.
Ricardo Amorim é um dos debatedores do programa Manhattan Connection da Globo News desde 2003. É também colunista na revista IstoÉ e apresentou a coluna Economia & Negócios na Rádio Eldorado.