Em um cenário de completo desconhecimento e incertezas com relação ao novo coronavírus é um desafio prever as consequências a médio e longo prazo na economia. Entendimento foi exposto em debate online nesta quarta-feira (1), em que foi abordado como tema principal, o impacto da pandemia no agronegócio de Mato Grosso.
O MT Econômico traz essa matéria especial para os leitores compreenderem o cenário atual, segundo a visão dos especialistas do agronegócio e mercado financeiro.
Participaram do debate o superintendente do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), Daniel Latorraca, o diretor executivo da Agro Amazônia, Roberto Mota, o diretor executivo do Banco Ribeirão Preto, Nelson Rocha, e o diretor executivo da M2M, Rodrigo Amato. A live foi organizada pela Torino Business Partners, consultoria em serviços financeiros para o agronegócio e teve como mediador o sócio diretor da Torino, José Octávio V. Corral.
“O risco faz parte do funcionamento do sistema capitalista. Mas você mede o risco e assume o que pode acontecer, faz o empreendimento e busca o resultado. No entanto, nós saímos de uma situação de risco para uma situação de incerteza. Então todas as regras de aferição que são parâmetros de funcionamento estão absolutamente em processo de ruptura”, avaliou o representante do Banco Ribeirão Preto.
Em termos macroeconômicos, Nelson avalia que o ambiente está preservado devido às baixas taxas de inflação e juros. Estas seriam possibilidades de diminuir a disfuncionalidade do mercado cambial acarretadas pela pandemia. O fato da distribuição de dinheiro para a população, bem como a cessão de créditos do Banco Central para outros bancos faz com que o sistema financeiro seja irrigado.
"O problema, no entanto, seria a dívida bruta do Brasil que está prevista para saltar para 85% do Produto Interno Bruto (PIB) no início de 2021. A avaliação geral é que os impactos econômicos trazem mudanças comportamentais da sociedade, das empresas e das instituições", ressaltou Nelson.
Agronegócio
Conforme apontou o superintendente do Imea, Daniel Latorraca, as comercializações estão acontecendo numa velocidade maior do que a esperada. O preço da soja, por exemplo, chega a R$ 95 a saca em alguns municípios do Estado, valor jamais estimado em Mato Grosso.
“No caso do milho a gente ainda vai colher essa safra, falta pouco. Milho e algodão não tem mercado. A gente levanta preços e o que se tem é indicativos de negócios fechados. Essas culturas vão ser colhidas a partir de maio e aí a gente está com bom nível de comercialização”, explicou.
O diretor executivo da Agro Amazônia, Roberto Mota, ressaltou que as indústrias do ramo têxtil tem sofrido muito, pela queda de consumo do algodão para fabricar o produto final. "Neste momento que shoppings estão fechados e lojas de um modo geral deixando de vender, as indústrias e comércio do ramo do vestuário sofrem muito", disse.
Em relação à pecuária, Latorraca apontou também a existência de ao menos 9 plantas frigoríficas paradas por férias coletivas em Mato Grosso, devido ao coronavírus. Quanto às carnes, por ser grande parte destinada ao consumo interno, a queda nas vendas pode gerar um efeito negativo. "Os congelados já podem se beneficiar, como as aves, pois as pessoas costumam comprar para estocar por mais dias. Na questão do preço, ainda está tendo uma queda de braço entre produtores e frigoríficos e a arroba do boi não oscilou muito", ressalta o superintendente do Imea.
“As exportações continuaram em bom volume para o Oriente Médio e China. Notadamente a União Europeia está com restaurantes fechados e lá há um consumo forte dessa carne premium”, complementou.
Daniel Latorraca disse ainda, que o coronavírus não fez com que o setor de alimentação parasse, o que ocorreu é o contrário. "Em março devemos ter até recorde nas exportações", ressaltou.
Crédito Rural
O diretor executivo da Agro Amazônia, Roberto Mota mostrou preocupação com os produtores que contraíram crédito rural atrelado ao dólar quando a moeda custava R$ 3,50 e hoje está a R$ 5,20. "Pode aumentar o índice de recuperação judicial no agronegócio. E isso não é bom para ninguém, nem para o produtor, lojas e economia em geral", disse.
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