O trigo tem despertado o interesse de produtores devido ao seu potencial de produtividade média ser superior a 100 sc/ha.
O responsável técnico da Cooperativa Agropecuária da Região do Distrito Federal COOPA-DF, Claudio Malinski disse que a cooperativa deve incentivar o cultivo do trigo na região não apenas para obter matéria-prima de qualidade para o moinho, mas também para que o produtor rural tenha os benefícios que a cultura traz indiretamente às demais culturas que a sucedem.
"A cultivar BRS 254 é o carro-chefe em trigo da cooperativa. “Estamos favorecendo a cultivar por ser o trigo mais interessante para o moinho. Qualquer outro produzido no Brasil, ao ser misturado com o BRS 254, vai produzir uma farinha de qualidade para a indústria. Os demais materiais são bons, mas é preciso mais cuidado na escolha para fazer o blend por haver alguns fatores limitantes”, explicou Malinski. Ele lembrou que a BRS 254 também requer atenção quanto ao risco de acamamento (queda ou arqueamento das plantas). “Mas ele tem uma vantagem. O ciclo é mais longo e, se pegar frio, é possível aumentar a produção para 8 ton/ha (ou 133 sc/ha)”.
Cultivares da Embrapa
Lançada em 2015, a cultivar de trigo irrigado BRS 394 também pode ser indicada para o sistema de sequeiro (trigo safrinha). Alia alta produtividade (acima de 120 sc/ha em sistema irrigado e de 60 sc/ha na safrinha) e maior tolerância ao acamamento em relação, por exemplo, à BRS 254. É um material precoce, com ampla adaptação de época de plantio, sendo colhido em 110 a 115 dias. A espiga laxa (dilatada), com maior espaçamento entre as espiguetas, facilita o controle preventivo da brusone, principal doença que acomete os trigais da região tropical brasileira. Em solos bem manejados, as raízes podem alcançar dois metros de profundidade, como constatado em lavouras comerciais.
A cultivar tem grão duro e é classificada na indústria como trigo pão. “Para ter liquidez na venda ao moinho, você precisa de trigo de qualidade para a produção de pão, principalmente”, argumentou o pesquisador Júlio Albrecht, da Embrapa Cerrados (DF), lembrando que 70% da produção de farinha de trigo no Brasil é destinada à indústria de panificação, sendo o restante utilizado na produção de biscoitos e de macarrão. Nesse sentido, a BRS 394 apresenta alta força de glúten* (320 x 10-4 J de média), bem acima dos 250 x 10-4 J exigidos pela indústria. Outro diferencial é a estabilidade** de 20 minutos, superior aos 12 minutos requeridos. “Isso é excelente tanto para o moinho como para o padeiro que vai fazer o pão”, completou.
Ao comentar sobre a precocidade da variedade, o pesquisador ressaltou que a melhor época de plantio para alcançar as maiores produtividades com trigo irrigado na região é a primeira quinzena de maio. “Se plantar mais cedo, em abril, corre-se maior risco de brusone. Excesso de chuvas em fevereiro e março são o prenúncio de brusone. Mas se as chuvas forem normais nesse período, dá para plantar a partir do dia 15 de abril com menor risco da doença”, recomendou.
O trigo BRS 264, lançada em 2005, é a variedade mais plantada na região. “Se andarmos pelo Cerrado do Mato Grosso, da Bahia, de Goiás e do DF, 80% da área de trigo é plantada com essa cultivar. Dificilmente conseguiremos tirá-lo do mercado porque além de ter alta produtividade (120 sc/ha), é um dos materiais bastante precoce. Com 90 dias ele está pronto na lavoura, com uma economia de água significativa”, comentou o pesquisador. A cultivar tem resistência moderada ao acamamento e é resistente à debulha.
Também de grão duro e classificada como trigo pão, com força de glúten média de 255 x 10-4 J, estabilidade acima de 20 minutos e peso do hectolitro (PH)*** médio de 80 kg/hl. “É uma das poucas variedades com as quais é possível fazer pão sem a adição de outras. Os moinhos compram de olhos fechados em função dessa flexibilidade na produção de farinha para panificação e do rendimento de farinha, que chega a 66,5% de média, um dos melhores. Até os padeiros falam que fazer pão com essa variedade é quase uma mágica”, comparou Albrecht.
Ele lembrou ainda que a BRS 264 é bastante responsiva à densidade de plantio. A recomendação é utilizar 200 kg/ha de sementes para alcançar o potencial produtivo da cultivar – menos que isso resultará em produtividades inferiores. “Vale a pena gastar um pouco mais com sementes e obter 20 a 30 sc/ha a mais que outras cultivares, pois ela responde bem à densidade de semeadura”, apontou.
Já a BRS 254, também lançada em 2005, pode ser plantada um pouco mais tardiamente (em função de uma terceira cultura, por exemplo), apesar da melhor época de plantio também ser a primeira quinzena de maio. Além disso, tolera melhor chuvas durante a colheita se comparada à BRS 264, por ter um grão mais fechado e duro. Tem ciclo precoce/médio e potencial produtivo de 100 sc/ha (há produtores ultrapassando os 120 sc/ha), sendo resistente à debulha e moderadamente resistente ao acamamento, demandando maior atenção na quantidade de nitrogênio em cobertura e no momento da aplicação do regulador de crescimento.
Considerado um trigo padrão pela COOPA-DF, tem força de glúten média de 330 x 10-4 J, alcançando 400 x 10-4 J, e estabilidade de 25 a 32 minutos, sendo classificado como trigo melhorador. “Como ele é muito forte, é usado para melhorar trigos de baixa força de glúten e de baixa estabilidade na produção de farinha para panificação. Por isso é tão importante para os moinhos”, explicou.
Por fim, a cultivar de trigo sequeiro BRS 404, lançada em 2015, é tolerante à seca e ao calor e indicada para o sistema de sequeiro (safrinha), com o plantio mais indicado para o mês de março. O potencial produtivo médio é de 60 sc/ha em sequeiro (com produtores já tendo alcançado 80 sc/ha) e pouco mais de 100 sc/ha em sistema irrigado, para o qual também pode ser indicado, pois, segundo Albrecht, é bem responsivo com pouca água. É uma cultivar de ciclo precoce, resistente à debulha e moderadamente resistente ao acamamento. Classificada como trigo pão, a variedade tem alta força de glúten (320 x 10-4 J) e estabilidade acima de 12 minutos, garantindo boa liquidez na venda aos moinhos.