O que falta para a economia brasileira deslanchar? Carlos Alberto Sardenberg explica.
A economia brasileira encolheu no primeiro trimestre deste ano. O Produto Interno Bruto recuou 0,2% em relação ao último trimestre do ano passado.
O Jornal da Globo conversou com dois dos principais economistas do país. Samuel Pessôa, pesquisador do IBRE da Fundação Getúlio Vargas, e Mário Mesquita, ex-diretor do Banco Central e economista-chefe do Itaú-Unibanco.
O diagnóstico é que a economia está enroscada com "nós" de todos tipos que só aumentam o problema da falta de crescimento. Economistas destacam oito pontos.
1. Contas do Governo
"Desde 2014, a gente vive numa crise fiscal dramática. O que que é isso? O Estado estruturalmente arrecada menos do que ele gasta e me parece que antes que nós consigamos resolver esse problema político dramático – que é construir um setor público que arrecade e gaste e essas duas coisas conversem entre si. Acho difícil o investimento produtivo voltar", afirma Samuel Pessôa.
2. Incerteza
"Havendo incertezas, as empresas têm relutância em fazer contratações e formalizar mão de obra e têm relutância também em investir, construir novas fábricas, por exemplo. O ponto focal dessa incerteza, o foco dessa incerteza é na solvência do governo. É a capacidade do governo de pagar as suas contas ao longo do tempo. Quando o governo não consegue arrecadar de impostos o que ele precisa para pagar os seus gastos, o que que acontece: ele imprime moeda. imprimindo moeda ele gera inflação. Então a incerteza é grande, ela é intensa e ela inibe o investimento, inibe a recuperação. Um passo fundamental para superar essa incerteza, uma condição necessária para isso na minha visão é a gente ter certeza sobre reforma da Previdência", comenta Mário Mesquita.
3. Reforma da Previdência
"Caso a reforma da Previdência não seja aprovada e o ajuste fiscal não avance, a gente vai ter uma economia estagnada e com inflação alta. Pode até ser um cenário parecido com que a gente vê na argentina agora, uma versão mitigada do que a gente viu no Brasil ante do Plano Real", diz Samuel Pessôa.
4. Contas dos estados
"A gente tem discutido problema fiscal na esfera federal, mas ele também se estende até mais intenso para estados e municípios. Alguns estados e municípios já estão encontrando dificuldade para pagar suas contas. Quando não conseguem pagar o seu aposentado, isso tem um impacto na atividade econômica. O aposentado não tem como consumir. Aquele que tem a receber do estado, seja um funcionário da ativa ou um fornecedor, também tende a gastar menos porque ele fica preocupado com o que ele pode vir a não receber do estado. Então essa crise fiscal federal e subnacional tem tido impacto bastante grande na recuperação atrapalhando a recuperação da economia", afirma Mário Mesquita.
5. Impasse Político
"E eu acho que tem uma dificuldade política. As medidas são necessárias pra fazer com que o estado seja solvente, ou seja, consiga pagar suas contas sempre mexe com alguém. Sempre fica ou aumenta impostos sobre alguém, ou reduzir gastos sobre alguém. Nos últimos anos foi comum esse argumento de que o problema fiscal devia-se muito a corrupção e que o combate à corrupção faria parecer uma centena de bilhão de reais no Tesouro, uma coisa assim. E a gente sabe que não é isso. A corrupção tem vários motivos pra ser combatida. Ela gera estagnação, ela gera perda de produtividade. Mas não é uma fonte do desequilíbrio fiscal. Então, a gente está um pouco como sociedade nesse impasse, a vários anos que o Congresso não consegue avançar na pauta de arrumar o fiscal", comenta Samuel Pessôa.
6. Facilitar o ambiente de negócios
"Tem que simplificar a vida das empresas, tem que abrir a economia, tem que reduzir a participação do estado em várias atividades econômicas. Não tem nada que vai do dia pra noite fazer essa economia começar a crescer muito rápido", afirma Mário Mesquita.
7. Desemprego
"Desemprego. Gente, é um tema dramático. Uma crise social imensa, 13 milhões desempregados. Eu acho que vai demorar muito tempo. Se o país cresce o normal, a taxa desemprego nem sobe, nem diminui, fica estável. Para taxa de emprego cair, tem que crescer acima do normal", diz Samuel Pessôa.
"Um setor que emprega muita gente ou pode empregar muita gente e responde por cerca de 4% do PIB é o setor de construção. Esse setor ainda tá muito parado especialmente porque as obras de infraestrutura pararam. Então é um ambiente em que essas obras voltam a avançar será um ambiente mais propício a geração de emprego", comenta Mário Mesquita.
8. Mundo em desaceleração
"A economia mundial vem desacelerando, os Estados Unidos estavam crescendo bem acima do seu potencial caminhando para um superaquecimento econômico, vem desacelerando, mas a gente também tem notado uma certa perda de dinamismo na China e em especial na Europa e também na região, que acaba influenciando negativamente o Brasil", afirma Mário Mesquita.
(Com G1)