A região da América Latina e Caribe poderia ter uma economia anual de US$ 621 bilhões até 2050 se os setores de energia e transporte alcançarem emissões líquidas zero. A informação foi apresentada em dezembro (12) pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) em Madri, durante a Conferência sobre Mudança Climática da ONU, a COP25. A divulgação dos dados foi feita essa semana.
As conclusões fazem parte de um resumo executivo antecipado do “Relatório Carbono Zero para a América Latina e o Caribe 2019”, que destaca oportunidades, custos e benefícios da descarbonização conjunta de transporte e de geração de energia.
Ambos os setores respondem por dois terços das emissões fósseis de CO2 da região e cerca de 25% de suas emissões de gases de efeito estufa. Tais emissões devem dobrar até meados do século, caso as políticas atuais continuem inalteradas.
Sob as políticas e condições atuais, espera-se que as emissões do setor de energia aumentem 140% (até 1,2 bilhão de toneladas), considerando que a demanda regional de eletricidade quase triplicará até 2050. Atender a esses novos requisitos com a matriz atual afastaria a região do caminho de alcançar a meta do Acordo de Paris de limitar o aumento da temperatura em até 2°C, segundo o relatório.
A conversão para um sistema totalmente renovável seria o caminho de menor custo para eletrificar a região e atingir os objetivos do Acordo de Paris. Uma matriz renovável exigirá investimentos cumulativos de US$ 800 bilhões de dólares até 2050, menos que o US$ 1 trilhão necessários para atender à demanda de energia projetada no cenário comercial atual, de acordo com o estudo.
O relatório mostra que, ao descarbonizar a matriz energética e fornecer eletricidade a um sistema completo de transporte com emissões líquidas zero (incluindo o transporte marítimo e o terrestre), em 2050 a região poderia reduzir 1,1 bilhão de toneladas de CO2 equivalente e economizar US$ 621 bilhões por ano.
Essas economias incluem US$ 300 bilhões em despesas evitadas no transporte terrestre de passageiros e reduções de US$ 222 bilhões nos custos de eletricidade. O efeito da mobilidade elétrica na qualidade do ar urbano economizaria US$ 30 bilhões em custos com saúde.
As economias totais previstas pelos autores consideram os custos da eliminação gradual das usinas de combustível fóssil instaladas antes de sua depreciação total. O valor dos ativos ociosos foi estimado em US$ 80 bilhões de dólares (2018) até meados do século.
Transição – A transição para a descarbonização total nesses setores específicos trará benefícios adicionais, como 7,7 milhões de novos empregos permanentes e 28 milhões de postos de trabalho temporário em tarefas relacionadas a tecnologias verdes, implantação de infraestrutura ou eletrificação de transportes.
“Os setores de energia e transporte apresentam oportunidades para ações rápidas e de longo alcance, ambientalmente saudáveis e financeiramente atraentes. Uma transição conjunta não visa apenas atingir zero emissões até 2050, mas contribuir para o crescimento econômico e a melhoria da saúde pública”, disse Leo Heileman, diretor regional do Pnuma na América Latina e no Caribe.
“Essa transição representa uma oportunidade importante para elevar o nível de ambição das Contribuições Nacionalmente Determinadas (CNDs) e as estratégias de longo prazo, com diversas opções que atendem aos compromissos internacionais do clima estabelecidos sob o Acordo de Paris e apoiar a consecução dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável”, disse Carlos Manuel Rodriguez Echandí, Ministro do Meio Ambiente e Energia da Costa Rica.
Desde 2012, a capacidade para energias renováveis não convencionais dobrou sua participação na matriz regional, representando, juntamente com a energia hidrelétrica, quase 54% em 2018. Além disso, os esforços de vários países para fornecer um ambiente propício para a transição energética garantiram mais de US$ 35 bilhões em investimentos em energias renováveis não convencionais durante os últimos cinco anos (44% do investimento direto estrangeiro global).
Apesar desse progresso, os autores pedem uma agenda política mais ousada para acelerar as mudanças necessárias para cumprir a descarbonização até meados do século.
O Relatório Carbono Zero América Latina e Caribe 2019: as oportunidades, os custos e os benefícios da descarbonização conjunta do setor de energia e transporte na América Latina e no Caribe, baseia-se no primeiro Relatório Zero Carbono (2016), que apelou à região para se concentrar na descarbonização total de quatro áreas que produzem 90% das emissões de gases de efeito estufa: geração de energia, transporte, uso da terra e indústria.
A nova edição foi produzida com o apoio do Euroclima+, um programa financiado pela União Europeia e pela Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento (Aecid)