A Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) já percebe no Brasil os reflexos da crise do novo coronavírus que assola principalmente a China. A entidade aponta que já há falta de componentes e materiais para a produção local. Alguns associados preveem que será preciso paralisar a produção “nos próximos dias”.
Boa parte dos componentes de aparelhos, como smartphones e computadores vêm da China, o país onde foi identificado o primeiro caso da doença. Lá, o governo restringiu viagens pelo interior e para fora do país e determinou que trabalhadores que viajaram para participar de comemorações do Ano Novo Chinês, principal feriado local, não retornem às cidades onde vivem até segunda ordem. Estima-se que 50 milhões de pessoas tenham sido afetadas pelas medidas de quarentena”.
Entre as medidas de contenção impostas pelo governo chinês estão a paralisação de escolas, fábricas, viagens estaduais e municipais, cancelamento de voos, de congressos, de reuniões etc. Tais medidas impactam diretamente na produção chinesa.
Crise em Hubei
Nessa semana, a coreana Hyundai suspendeu suas atividades nas sete fábricas na Coreia do Sul por conta de problemas com fornecedores chineses, que interromperam suas operações devido à crise com o coronavírus 2019 n-CoV. A medida momentânea precisou ser tomada por falta de autopeças provenientes da China, que tem seus trabalhadores parados em razão do surto.
O presidente da Abinee, Humberto Barbato, acha que a situação brasileira está bem preocupante.
Isso porque a província de Hubei, o epicentro da crise, é produtora de alta tecnologia para exportação. Atualmente Wuhan é responsável, sozinha, por cerca de 4% do PIB chinês. Lá estão localizadas fábricas de semicondutores e telas que acabam chegando ao mercado brasileiro.
Os reflexos chegam a outras fronteiras também. A Foxconn, que produz o iPhone, da Apple, voltará a fabricar apenas em 10 de fevereiro. As instalações na província de Henan estão paradas. As regiões em quarentena produzem 25% dos smartphones do mundo.
Segundo Pietro Delai, gerente de pesquisa de mercado da consultoria IDC Brasil “na América Latina pode haver redução da cadeia de suprimentos, pois todos os fabricantes dependem de insumos trazidos da China. Também há reflexo em exportação. Chile e Argentina, por exemplo, vendem lítio para a manufatura de baterias pelos chineses”, diz.
A indústria eletroeletrônica brasileira exporta 2% de seus produtos para a China, um montante que gira em torno de US$ 136 milhões. Na outra ponta, porém, importou em 2019, 45% de produtos do país asiático, o que dá US$ 14,2 bilhões, mostrando o desequilíbrio que a crise pode gerar.