Diante de todo este cenário contemporâneo onde o carro é uma eterna novidade, uma pergunta deve ser respondida: por que o automóvel encanta tanta gente?
A explicação do encantamento com o carro vem da necessidade humana de mobilidade, que culmina na mercadoria automóvel e no desenvolvimento do sistema automobilístico.
Lembremo-nos que o consumo do automóvel, ao contrário das outras mercadorias, se realiza na esfera pública, o que o tornou um objeto “semiprivado e semipúblico”. É neste sentido que podemos dizer que o automóvel se desenvolve no urbano.
Além dessa diferença singular e importante, o automóvel como mercadoria, carrega mistérios. É uma representação de poder, status e de tipo de pessoa. No limite, o automóvel simboliza todas as necessidades de representação do homem. Afinal: “se você pretende saber quem eu sou, eu posso lhe dizer: entre no meu carro[…]”, diria Roberto Carlos.
No início do século XX, em meio às dúvidas a respeito do futuro, tendo como pano de fundo o automóvel no rol de todas as novidades tecnológicas, foi articulada a promessa de um “século da modernidade”. Esta proposta estava alinhada principalmente com o modelo de desenvolvimento da indústria, mirando novos tipos de transporte e de comunicação. Foi pelo uso desses objetos e artefatos tecnológicos que, no ato de se adaptar e utilizar essas tecnologias, a população da capital mato-grossense acaba por se inteirar e mediar novas formas de viver.
Sair de casa e movimentar-se na cidade exigia, agora, uma atenção redobrada, uma nova disposição corporal, uma reeducação dos sentidos e gestos. Os novos meios de transporte implicavam novos hábitos, a quebra da rotina local, a descoberta dos novos traços urbanos, viabilizando passeios mais distantes, criando formas de contato e de sociabilidade, ampliando os laços comunitários, ensinando a ver em movimento, rearticulando as paisagens, unindo pontos estratégicos.
Eram uns “textos móveis” que ensinavam a reler a cidade. Tanto o planejamento urbano como a reurbanização no início do século XX – do qual o automóvel é protagonista, como veículo de transporte e das interferências ao cotidiano das cidades, vai resultar por criar lugares e espaços sem significados precisos, desta forma, impondo forte impacto estrutural, social, arquitetônico, legislativo e financeiro.
O automóvel provoca intervenções na cidade, em seu benefício e para o bem de uma proposta capitalista. Esta é uma característica dessa revolução que se apresenta muitas vezes imperceptível.
Apesar de ser uma transição pacífica em termos de resistência direta, ela é impositiva ao cotidiano. O “desenvolvimento técnico redefine, a cada passo, as necessidades sociais” e por isso é impactante, contínua e demanda um sentido de urgência imperativa.
Cuiabá, do início do século XX, estava inserida nessa condição, pois além de melhoria nos aspectos urbanos e de saneamento, havia a demanda por novos meios de transporte que viessem a facilitar a vida da população, transmitindo aos visitantes e viajantes a imagem de uma cidade próspera.
Enquanto as grandes capitais brasileiras entravam na era do automóvel, em Cuiabá, bondes puxados por mulas faziam o transporte público.O automóvel, lentamente vai acelerar a presença do capital, é mais do que somente um veículo de transporte, representa uma simbologia. É uma condição para transformação, fornece sentido à ideia de progresso e viabiliza um modo de vida direcionado para modelo burguês. E Cuiabá queria isso.
Todavia, é preciso reforçar, que as questões culturais se sobrepõem ao viés econômico, visto que uma sociedade, “por mais espúria que seja, tem o mérito de fazer pensar que o capitalismo também obedece às ordens culturais e existe socialmente através de modos de vida”. Quando se trata de cidades, o urbano é o modo de vida do capitalismo, que tem a cara do automóvel, por isso ele encanta tanta gente[1].
[1]Fontes: Jane Jacobs afirma que tanto o planejamento urbano como a reurbanização no início do século XX – do qual o automóvel é protagonista. SCHOR, op. cit., p. 107 – 110. NYE, David E. Narratives and Spaces: Technology and the Construction of American Culture, New York: Cambridge University Press, 1998. p. QUELUZ; BELLI, op. cit., p. 2098. JACOBS, Jane. Morte e vida das grandes cidades. São Paulo: Martins Fontes, 2001. p. 389.
Coluna Especial sobre Setor Automotivo
Colunista MT Econômico: Ricardo J. J. Laub Jr.
Historiador e Empreendedor graduado no Curso de Licenciatura Plena em História na UFMT- Universidade Federal de Mato Grosso e em EMPREENDEDORISMO (2005) pelas Faculdades ICE. Com Mestrado em História Contemporânea pela UFMT/PPGHIS. MBA – Master in Business Administration em Gestão de Pessoas, MBA – Master in Business Administration em Gestão Empresarial e MBA – Master in Business Administration em Gestão de Marketing e Negócios. Professor na faculdade, Estácio de Sá – MT, Invest – Instituto de educação superior. Presidente da AGENCIAUTO/MT- Associação do Revendedores de Veículos do Estado de Mato Grosso, com larga experiência profissional na elaboração de planos de negócio voltados para o ramo automobilístico, gerenciamento comercial, administrativo, controle de estoque, avaliação de veículos, processos operacionais e estratégicos para empresas do setor automotivo e gestão de pessoas no âmbito organizacional.