Nesta semana, na terça-feira, comemorei 46 anos desde que cheguei a Mato Grosso. Olhando com os olhos de hoje, tudo isso já pertence à História. E a História tem o dom de despersonalizar as pessoas que estiveram dentro dos fatos. Não vou aqui recontar a História porque ela já está escrita. Muito pouco na memória de quem viveu.
Mas algumas memórias julgo indispensáveis. Morava em Brasília. Era jornalista no prestigiado Jornal de Brasília. Aqui a divisão de Mato Grosso corria como uma onda. Era uma poderosa disputa política e econômica entre Campo Grande e Cuiabá. As duas cidades mais importantes do estado. Com o apoio da presidência da República a imprensa nacional abriu uma campanha difamatória enorme contra o governo de Mato Grosso. Atingia diretamente o governador Garcia Neto, mas o alvo era criar a tese de que um estado tão grande e tão diferente entre si, não seria administrável sem se dividir.
O apoio da presidência tinha uma razão histórica. Campo Grande era a sede da 9ª. Região Militar e nela serviram uma série enorme de tenentes e capitães do Exército. Num determinado momento, entre 1975-1979, muitos deles já generais, incluindo o presidente da República, General Ernesto Geisel, ocupavam posições importantes no governo federal. Quando serviram em Campo Grande, assimilaram a ideia divisionista que nascera em 1932. Uma vez no governo, deu-se a reação química deles com as lideranças políticas do Sul de Mato Grosso.
Dentro dessa crise política cheguei a Cuiabá na noite de 25 de agosto de 1976 contratado pra trabalhar na comunicação social do governo, que acabei dirigindo dois anos mais tarde até a separação dos dois estados em 1º. de janeiro de 1979.
Saí do governo nessa data e fui pro mercado do jornalismo. Mas acompanhei de perto a política e as lutas do governador Frederico Campos pra viabilizar o estado pós-divisão. Nada ficou escrito do governo federal anterior. Foi uma luta gigantesca. Em especial contra o clima de pessimismo vigente em Mato Grosso. Descrença enorme porque se pensava então que o Sul sustentava o Norte, e sem ele seria o desastre. Não foi. Ao contrário!
Hoje passados 46 anos desde aquela tarde quente de agosto quando cheguei no meu Corcel 1969 azul. Inseguro e com muitos receios. Estou tranquilo. Meus quatro filhos cresceram a se casaram aqui. Tiago nasceu em Cuiabá. Tenho 6 netos, quatro cuiabanos e três bisnetos cuiabanos.
Os sonhos de sempre se realizaram em Mato Grosso. O salto desde então foi de século. O futuro é gritante: seguro e rico.
Aquele jovem ousado, agora tem os cabelos grisalhos. Vou aos poucos encerrando a minha jornada dentro desse mundo da política e caminhando pra um jornalismo mais conceitual. Agradecendo a riqueza que tive ao me mudar pra Cuiabá naquela tarde quente de agosto em 1976. Valeu a pena. Valeu a vida!
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso