Devemos a Cazuza, esse retrato fixo do tempo e da realidade brasileira na contemporaneidade. E porque um poeta, muito à frente de seu tempo, nos brindaria 32 anos atrás, com o que temos no nosso presente? Apesar de o “tempo” não parar, nós interessados no presente e no futuro sabemos, ele se reinventa sobre o mesmo problema. Cazuza escreveu então para eternidade. Não é a primeira epidemia, nem a primeira onda de interesses políticos que assola o Brasil e o mundo. O ser humano tão preocupado consigo mesmo, escreve, muitas vezes, sua própria ruína.
Toda persistência temporal tem sabor efêmero, um sentimento vago, ao se constatar que a vida material, é de verdade uma improvisação da nossa felicidade, porque de acordo com o filósofo da razão, Kant, em sua “crítica da razão pura”[1], tudo, que não é você, sobrevive, só a gente passa, o tempo é cruel porque ele, o “tempo”, fica e a gente se vai, como uma folha que cai da macieira e vira terra, não deixa frutos, apenas serve de adubo.
E aí nessa corrida pela realização de uma história, vem o homem aventando sua tão pretendida prosperidade na esteira desse debate sobre a melhor forma que os seres humanos, em sociedade, devem viver, ou mesmo morrer, num presente contínuo. E de fato, a política é o meio onde a humanidade realiza essa batalha.
O grande dilema da crise do coronavírus é o isolamento, a imobilidade. Salvar vidas pelo distanciamento, para se sobreviver ao vírus, deve se viver em solidão. E o quão difícil se prova, na prática essa prática. Que saudade tenho dos meus passeios ao Big-lar, isso mesmo, dois prazeres me negados. Dirigir meu carro pelas avenidas majestosas de minha cidade. Caminhar pelos corredores de um supermercado, rever velhos amigos, dos velhos tempos, da velha Cuiabá. Agora entendo o fascínio do volante, da aventura e do sentimento de liberdade que o automóvel me traz. A noite e suas estrelas todas livres, que inveja temos delas agora. A liberdade nos foi roubada pela natureza de um microrganismo.
E sobre a sociedade e sua forma de conviver, me aproveitando de Rousseau, perecer e existir, deve ser sob um contrato social[2], já Hobbes acredita que os homens, se ajuntados, criam maneiras de sobreviver a si próprios, em sua sabedoria infinita decretou, “homem lobo do homem[3]”. E nesse conjunto de ideias, para o filósofo, o Estado na forma de um “Leviatã” se faz necessário, e apoderado pela insana mente humana, quer o poder pelo poder. Nenhum deles conheceu o automóvel, nem essa nova sociedade que vive sobre 4 rodas.
Sabemos, o “Estado Moderno”, é produto de um processo de cerca de três séculos em busca de liberdade e igualdade, que nos confia esse pacote nebuloso e rico de controvérsias chamado democracia. E o Brasil de 2020, lembra 1988? Ano em que Cazuza lançou “O tempo não para”, aonde dançamos a liberdade, bailamos a hipocrisia de uma sociedade moralista e conservadora. Assim como hoje, em meio a um cenário de desemprego, inflação, com uma população precarizada em seu consumo, época chamada de a ‘década perdida”. Ano em que o nosso ídolo maior, Airton Senna, vai conquistar seu primeiro título mundial do automobilismo lá nas terras japonesas, Cazuza irreverente, canta em pleno Rock in Rio, para multidões, o “tempo não para”.
Em pleno 1988, como hoje em 2020, a música está no palco da política. Naquele cenário, após a promulgação, em 5 de outubro, pelo Congresso Nacional, da nova Constituição brasileira, passo decisivo para o fim da perversa ditadura que pôs de joelhos, a nação, por mais de vinte anos. E agora no presente, velhos e cansados conceitos girondinos são promessa de uma esperança não realizada que ressurgem. A democracia liberal fracassou após 1988? Venceu a falsa moral? Todos sabemos que não. Fica a dica, a democracia na sua imperfeição perfeita, mola dialética e perversa, nos avisa, que as vezes precisamos dar 5 passos para trás, para dar um salto de 15 passos para a frente. Lembremo-nos, “o tempo não para” […],mas se você achar que eu tô derrotado, saiba que ainda estão rolando os dados, porque o tempo, o tempo não para[4] […].
Minha vontade é sair com meu carro pela cidade, no toca fitas, como se existisse isso ainda, tocando Paralamas do Sucesso, “[…] Vital comprou a moto. E passou a se sentir total, se sentir total.Vital e sua moto, mas que união feliz”. Quero fazer isso, mas só depois que tudo estiver sem risco “total”, como “Vital e sua moto”, enfim feliz. Respeitemos o isolamento.
[1] Refrão da música “O tempo não Para” de Cazuza, lançada em 1988.
[2]ROUSSEAU, Jean-Jacques. O contrato social. Tradução de Antonio de Pádua Danesi. 1996.
[3] HOBBES, Thomas. Leviatã: ou matéria, forma e poder de uma república eclesiástica civil. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
[4] KANT, Immanuel. Crítica da razão pura e outros textos filosóficos. São Paulo: Abril Cultural,1974.
Coluna Especial MT Econômico – Setor Automotivo
Colunista MT Econômico: Ricardo Laub Jr.
Historiador e Empreendedor graduado no Curso de Licenciatura Plena em História na UFMT- Universidade Federal de Mato Grosso e em EMPREENDEDORISMO (2005) pelas Faculdades ICE. Com Mestrado em História Contemporânea pela UFMT/PPGHIS. MBA – Master in Business Administration em Gestão de Pessoas, MBA – Master in Business Administration em Gestão Empresarial e MBA – Master in Business Administration em Gestão de Marketing e Negócios. Professor na faculdade, Estácio de Sá – MT, Invest – Instituto de educação superior. Presidente da AGENCIAUTO/MT- Associação do Revendedores de Veículos do Estado de Mato Grosso, com larga experiência profissional na elaboração de planos de negócio voltados para o ramo automobilístico, gerenciamento comercial, administrativo, controle de estoque, avaliação de veículos, processos operacionais e estratégicos para empresas do setor automotivo e gestão de pessoas no âmbito organizacional.
Leia mais Opinião: O automóvel parado, vírus andando? O que era para aproximar está estacionado