Alguém não conhece? “Cândido Mariano da Silva Rondon, oficial do exército, conduz um Ford de 1912 para desbravar Mato Grosso”. Ironia ou predestinação? Ao utilizar um veículo de quatro rodas a combustão interna, o mato-grossense, e amigo dos índios, vai fazer parte de um grupo de pessoas que vão interferir de alguma forma para a introduzir o automóvel e a ideia de progresso na região oeste do Brasil. O que Vergniaud Calazans talvez não soubesse, ou deixou de citar, é que antes disso o automóvel já havia percorrido as paragens mato-grossenses, da mesma forma, relacionado aos trabalhos do Marechal Cândido Rondon.
O progressista mimoseano, Cândido Mariano da Silva Rondon, como grande positivista, defendeu e levou o conhecimento cientifico entre o fim do século XIX e os primeiros 40 anos do século XX pelas mais longínquas paradas que ele mesmo criou. E como tal, o desbravador do oeste não poderia deixar de participar, ainda que de forma indireta, do processo da introdução dos primeiros automóveis às terras de Mato Grosso.
Em seu projeto civilizatório abrir estradas era uma condição de desenvolvimento para qualquer região, percorreu o oeste brasileiro dominado pela natureza do engenheiro que era impregnado de uma ideologia tecnicista, mecanicista e processual, centrado em seu objetivo e seu método racional de análise, totalmente permeado pela humanidade profunda de um ser humano excepcional.
Rondon acreditava piamente num futuro determinado pela ciência e, determinado a abraçar este modelo como o ideal de sociedade, sustentou e conduziu tudo a sua volta para direção do progresso da região a qual ele pertencia.
Em seu sonho, o século XX estava inexoravelmente atrelado a ciência e tecnologia. Daí sua inesgotável energia, e sua grande força idealista para se mobilizar nessa difícil tarefa de desbravar o oeste brasileiro no objetivo de inserir essa região ao processo de modernização de um Brasil tão grande e inexplorado.
Nos relatórios da Comissão Rondon, ele afirmaria: “Creio que a ciência, a arte e a indústria hão de transformar a Terra em paraíso para todos os humanos, sem distinção de raças, crenças, nações – banidos os espectros da guerra, da miséria, da moléstia” .
Empreendedor com a visão voltada para o futuro, Rondon teve relação direta com o primeiro registro da passagem de um automóvel por Mato Grosso, fato ocorrido em 1903, poucos anos depois do primeiro automóvel aportar no Brasil, o fato poder comprovado por meio de dois registros fotográficos, dos quais reproduzimos um deles (Imagem 1). Este registro fotográfico foi inserido na publicação do Relatório dos Trabalhos Realizados de 1900 a 1906 pela Comissão de Linhas Telegráficas do Estado de Mato Grosso, apresentado às autoridades do Ministério da Guerra, pelo então chefe da Comissão, Major engenheiro Cândido Mariano da Silva Rondon.
O registro comprova a passagem dos automóveis pelo Sul de Mato Grosso no ano de 1903, durante o projeto de expansão do governo federal, ao abrir estradas e linhas telegráficas em prol de desenvolver a comunicação da região, interligando o oeste brasileiro com o resto do país.
Sete anos mais tarde, em 1910, durante os trabalhos da Comissão Rondon na região do “Guaporé”, das cidades de Cáceres e Vila Bela da Santíssima Trindade (Imagem 2), é retratado um dos três caminhões Ford desembarcados no porto de Cáceres, utilizado na tarefa de instalação das linhas telegráficas e abertura de estradas de rodagens para o trânsito específico de automóveis.
Ao abrir estradas, na direção da fronteira oeste brasileira, durante a expedição do projeto da construção da linha telegráfica tronco e abertura de estradas de abastecimento, entre os anos 1907 e 1910, mais exatamente em dezembro de 1908, Cândido Mariano da Silva Rondon faz um registro da necessidade da utilização dos automóveis para o bem de sua empreitada e assim relata: “Fiz a encommenda de um automóvel systema Fiat, Typo caminhão, que pudesse trafegar nos chapadões, onde os muares e bois não resistiam a um mez de serviço” .Em 11 fevereiro de 1909, Rondon preocupado com a construção das estradas de rodagem para o transito dos automóveis, relata: “Eu prossegui meu caminho para Tapirapoan, com o intuito de inspecionar os trabalhos de adaptação da estrada para automóveis”.
No dia 06 de março de 1909, Rondon inaugurava “o serviço de automóveis de Tapirapoan para o Salto da Felicidade e marchava para o Juruena”. Em 19 de abril desse mesmo ano, relata se referindo à paralisação da construção da linha e “a dificuldade de transporte cada vez maior”, levando o acampamento ao desalento:
O meu distincto colega e ajudante, major Avila, entendeu ser mais pratico abastecer o deposito do Juruena primeiramente, para então recomeçar os trabalhos com afinco e sem intermitência. Tomou a resolução de interromper a construção e acampar o batalhão em Aldeia Queimada, para d’alli com impetuosidade levar ao seu termo a construção da estrada para automóveis, que até a minha chegada a esta capital achava-se no Burityzinho, 109km, 671m além do ponto de partida.
O Mal. Cândido Rondon deixa registrado o quanto era difícil, tanto para os animais como para os automóveis, vencer os desafios da empreitada, ao relatar que: “As machinas Fiat e Saurer de propriedade da comissão, pouco serviço davam, pelos contínuos desarranjos que sofriam. Os muares sobreviventes, mal chegavam para atender ao transporte de vivieres da base de operação para o acampamento e estações inauguradas, ainda a cargo da comissão. Sob um resoluto propósito, Cândido Rondon compreende a importância de se desenvolver o oeste do Brasil durante sua missão de instalar a ligação telegráfica entre o oeste brasileiro e a capital Federal (1890 e 1930), ao se abrir estradas de rodagem para o desenvolvimento e progresso.
Devemos a este homem muito a respeito do que Mato Grosso se tornou, antes de um propósito, uma causa justa, a de trazer a sua terra tão amada um novo caminho, desta maneira colocar Mato Grosso na velocidade do mundo.
Para Cândido Rondon as estradas eram as ligações e uma necessidade na criação dos meios de comunicação.
Nessa época sua missão foi noticiada pela imprensa como a: “Mola propulsora do progresso material e a grande responsável pela integração, á Nação, de vastas regiões do País. Afinal graças a ela “a Amazônia estava ligada ao Rio por terra! 1500 km de estrada e linhas telegráficas e 35.000 índios pacificados”, dizia a manchete do jornal carioca A Rua, em 22/04 de 1.915”.Nos relatos de Marechal Rondon, em seu resumo estatístico de serviços executados pela comissão de 1910 no oeste brasileiro, é possível perceber todo seu progressismo ao registrar a importância da construção não só da linha telegráfica, mas das estradas de rodagens que tinham o objetivo primordial, e base de toda missão, não somente na instalação de postes mas, na sua perspectiva, também no desenvolvimento do social e o político dessas regiões do Brasil[1].
[1]LAUB JUNIOR, R. J. J. OS AUTOMÓVEIS CHEGARAM: Observações da história sobre a transformação de Cuiabá no período de 1919 a 1937. 2016. 176p. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em História, Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, 2017.
Coluna Especial MT Econômico – Setor Automotivo
Colunista MT Econômico: Ricardo Laub Jr.
Historiador e Empreendedor graduado no Curso de Licenciatura Plena em História na UFMT- Universidade Federal de Mato Grosso e em EMPREENDEDORISMO (2005) pelas Faculdades ICE. Com Mestrado em História Contemporânea pela UFMT/PPGHIS. MBA – Master in Business Administration em Gestão de Pessoas, MBA – Master in Business Administration em Gestão Empresarial e MBA – Master in Business Administration em Gestão de Marketing e Negócios. Professor na faculdade, Estácio de Sá – MT, Invest – Instituto de educação superior. Presidente da AGENCIAUTO/MT- Associação do Revendedores de Veículos do Estado de Mato Grosso, com larga experiência profissional na elaboração de planos de negócio voltados para o ramo automobilístico, gerenciamento comercial, administrativo, controle de estoque, avaliação de veículos, processos operacionais e estratégicos para empresas do setor automotivo e gestão de pessoas no âmbito organizacional.
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