O trem, filho pródigo da 1ª Revolução Industrial, surgido em meados do século XIX, entre outras invenções tecnológicas como o automóvel, o telefone e o telégrafo, e várias que emergiram durante a “2ª Revolução Industrial”, são entendidos como artefatos que aproximam pessoas.
Aproximar é um verbo, transitivo direto, muito preocupante atualmente, de verdade, apesar de estranha essa afirmação, às vezes não percebemos o quanto o objetivo do carro, por exemplo, é não só levar, mas aproximar pessoas e coisas de pessoas, para outras pessoas. No fim, é um meio de comunicação, pois faz a coligação e nessa esteira, de estabelecer o contato, é agente fundamental e traz muito mais que só pessoas e objetos, transporta ainda cultura, move também outras formas de seres vivos, como os animais e como sabemos, vírus, que por mistério “divino” não vemos exatamente, mas está presente em quase tudo, inclusive, que se move.
Isso mesmo, especificamente o automóvel faz parte do processo para a comunicação entre pessoas, e mais, ainda, faz parte de formas de “linguagens e meios de comunicação social”, pois produz significados e representações também. Visto deste ponto, o automóvel está diretamente inserido nas questões de saneamento público, afinal não é apenas um objeto que pode conter o vírus, mas pode levar e assim, espalhá-lo, como tudo que se move e por trás de uma linguagem social, de proteção.
Estranho escrever sobre o automóvel sem tratá-lo como um produto, pela primeira vez, cabe a mim, citá-lo como um vetor de contágio. Sem dúvida isso é inovador, e nos atenta para estar cientes de que tudo à nossa volta participa, de um jeito ou de outro, para a proliferação do vírus. O carro, ao surgir, veio como esperança, óbvio evidentemente, um símbolo do progresso e do desenvolvimento.
Estudos históricos contam que no ano de 1912, no dia 16 de abril, comemora-se a chegada do primeiro automóvel, oficialmente, apresentado às cidades de Cuiabá e Várzea Grande: um “pesado caminhão de rodas maciças”, marca Orion, de fabricação Suíça. A máquina desfilou como componente importante da solenidade de inauguração da estrada de rodagem entre Cuiabá e Várzea Grande. Dois anos antes, em 1910, durante os trabalhos da Comissão Rondon na região do “Guaporé”, das cidades de Cáceres e Vila Bela da Santíssima Trindade, registrou-se a passagem de um automóvel pela região,utilizado na tarefa de instalação das linhas telegráficas e abertura de estradas de rodagens para o trânsito específico de automóveis. Como realçamos a ideia de comunicar já era premente como expectativa para o carro.
Para o poeta Olavo Bilac, reconhecido não só pelo seu talento poético e jornalístico, mas também como “cronista moderno”, ao descrever o automóvel, expressa toda a conjuntura de tensões e conflitos que a “modernização e os ideais de modernidade, produziram na sociedade e no imaginário daquelas gentes que viviam o limiar entre os séculos XIX e XX”. O poeta, um dia ao volante, do “monstro que tinha fornalha, caldeira, chaminé, grelha, correntes, ganchos, um inferno!”, (vejam só como o automóvel suscita uma mensagem em cada época), sofreu no ano de 1901, por ruas brasileiras, ao volante do primeiro automóvel, de propriedade do ‘pai da abolição’, José do Patrocínio, o primeiro acidente registrado. Este acidente seria o primeiro de tantos que ainda viriam a acontecer.
Sob uma nova perspectiva, o carro pode acarretar mais que acidentes de trânsito, pode carregar, junto com tudo que leva, o COVID-19 pelos recantos e cantos e ser, inocentemente, mais um vetor de transmissão contribuindo para o alastramento da doença.
Não há mais questionamentos sobre a gravidade do momento em que o Brasil e o mundo vivem. O vírus, podemos compreender, ironicamente é democrático, se assim podemos conceituar, não escolhe classe social, nem classe econômica, muito menor grupos pela condição de poder e mesmo intelecto. O micro-organismo é simplesmente desprovido de escolhas, e é amoral. Ele circula e pega o que tem pela frente. Pode estar em um copo, ou em um carro, ou mesmo no vento.
Renunciar ao isolamento é de fato um risco, não só para o indivíduo que, por inocência, ignorância e até por falta de atenção e prevenção, não entende que sua liberdade, quando se trata do contrato social, está no limite da interferência sobre a vida de outro cidadão. Nosso artigo trata de saúde pública, e não está discutindo as questões econômicas que o isolamento produz. Para tal debate, não necessariamente estaríamos falando de contágio. Essa questão,claro, é de suma importância, mas ela está em um âmbito de ações preventivas e de tomadas decisões por políticas públicas em defesa da economia, que entendemos, estão em andamento pelos governos dos munícipios, Estados, e principalmente, pelo governo Federal que decretou Situação de Calamidade Pública, dando assim andamento em políticas livres de respeitar o Ajuste Fiscal, em benefício, tanto do combate ao vírus, ao criar políticas de saúde públicas, como também, políticas de combate a recessão econômica, com pacotes econômicos em defesa da economia.
Aqui discutimos como o automóvel pode se tornar um vetor de risco, se mau utilizado, não se enganem, mesmo sendo uma propriedade privada móvel ainda é um objeto, e como tal, apesar de nos proporcionar grandes benefícios, não está imune ao vírus.
Acreditar que estar dentro de um carro pode protegê-lo, não é verdade. Tudo bem, existem muitas pessoas que nem acreditam no vírus. Não vamos entrar nessa questão. Mas se ele existe, e acho que existe, está em todo lugar, inclusive nos automóveis.
Nossa intenção é alertar e lembrar, para aqueles que acreditam na epidemia, que o carro é também, se mau utilizado, um vetor de transmissão muito eficaz. Pois ele vai onde você não iria a pé, e dá uma sensação de proteção, que não é verdadeira, se você motorista não tomar todas as precauções já muito informadas pelos órgãos de defesa ao COVID-19.
Se amamos nossos carros e nossos iguais, e não conseguimos ficar sem dar aquela voltinha, faça nele o mesmo processo de cuidados que estão sendo noticiados para todos os objetos de uso diário. Ou estacione ele na garagem, e sobreviva. Com saúde não se arrisca, antes estacionar, do que morrer ou matar, e não estamos falando de acidentes de trânsito. A nossa tranquilidade é que sabemos que esse processo tem data marcada para acabar, e é aí que devemos construir um planejamento de sobreviver. Não é tão difícil e vamos passar por isso com certeza.
Coluna Especial MT Econômico – Setor Automotivo
Colunista MT Econômico: Ricardo Laub Jr.
Historiador e Empreendedor graduado no Curso de Licenciatura Plena em História na UFMT- Universidade Federal de Mato Grosso e em EMPREENDEDORISMO (2005) pelas Faculdades ICE. Com Mestrado em História Contemporânea pela UFMT/PPGHIS. MBA – Master in Business Administration em Gestão de Pessoas, MBA – Master in Business Administration em Gestão Empresarial e MBA – Master in Business Administration em Gestão de Marketing e Negócios. Professor na faculdade, Estácio de Sá – MT, Invest – Instituto de educação superior. Presidente da AGENCIAUTO/MT- Associação do Revendedores de Veículos do Estado de Mato Grosso, com larga experiência profissional na elaboração de planos de negócio voltados para o ramo automobilístico, gerenciamento comercial, administrativo, controle de estoque, avaliação de veículos, processos operacionais e estratégicos para empresas do setor automotivo e gestão de pessoas no âmbito organizacional.